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Couros “metal-free” e “bioleather” – Diferenças entre os curtimentos dos couros

Um item importante dentro da política de sustentabilidade ambiental trata de processos de curtimento/recurtimento de couros totalmente livres de metais, internacionalmente chamados de “metal-free”.

Antes de tudo devemos entender exatamente o que isso quer dizer. Existe alguma confusão quanto à nomenclatura quando se fala deste tipo de couro. Couros chrome-free, metal-free, wet-white e bioleather são coisas distintas.

Chrome-free é aquele couro que foi curtido sem cromo, mas não necessariamente sem metal. Ele pode ter sido feito com algum produto orgânico ou outro metal, como titânio ou zircônio. Portanto, nem todo couro chrome-free é necessariamente metal-free. Curtimento wet-white é qualquer curtimento que produza cores claras. Não quer dizer que seja metal-free.

Já o bioleather, termo muito utilizado, nada mais é que um curtimento metal-free com exigências adicionais quanto à restrição de produtos. Além do cromo, também deve ser isento de nonilfenol, azo-corantes, formaldeído, entre outros.

A tecnologia deste novo processo, desenvolvida e incrementada principalmente devido a resoluções da Comunidade Européia e USA, em resposta ao problema decorrente de reciclo de automóveis. Restrições legais quanto aos níveis de cromo estão sendo postas em prática, a níveis que impossibilitam a utilização de cromo como agente curtente.

O cromo é um dos metais utilizados na indústria do couro. O sucesso do curtimento ao cromo não veio gratuitamente, há diversas razões para tal. Os resultados obtidos são excelentes, consegue-se obter couros macios e com elevada temperatura de retração. Do mesmo modo, o processo de curtimento com cromo é simples e mundialmente conhecido e utilizado.

Os atuais requisitos das indústrias transformadoras, como a indústria calçadista, de artefatos e automotiva levam ao desenvolvimento de tecnologias de processos que não causem danos ao meio ambiente, que minimizem as emissões à atmosfera, que reduzam a geração de resíduos e da carga orgânica lançada nos efluentes. A utilização deste novo tipo de couro promove grande diferencial nos seus produtos. Os couros curtidos ao cromo utilizados no estofamento dos automóveis, quando incinerados, transformam o cromo (+3) em cromo (+6) e neste estado de valência, é altamente tóxico principalmente devido ao seu comportamento oxidante.

No Brasil já existe uma legislação forte e atuante no que se refere aos controles de efluentes e do farelo ou serragem das rebaixadeiras e aparas do recorte das peles curtidas ao cromo. Ainda não acontece um processo de reciclo dos estofamentos automotivos conforme o padrão europeu, mas chegaremos lá.

Certamente ainda não existe um nível tecnológico que propicie a substituição total do cromo por elementos não-metais e nem há tal necessidade. Quanto ao estofamento automotivo, ou a qualquer outro produto confeccionado com couro curtido/recurtido ao cromo e que venha a ser queimado/reciclado, deverá respeitar essa nova tecnologia.

Por ora podemos citar várias vantagens técnicas no utilizo desta tecnologia:

  1. Couro deixa-se enxugar muito bem.
  2. É facilmente rebaixado.
  3. Não apresenta grandes variações na espessura do couro após o rebaixe.
  4. Temperatura de retração do couro em torno de 82°C (devemos ainda melhorar a temperatura de retração para chegar a 100°C).
  5. Couro está livre de todo e qualquer tipo de metais pesados.
  6. Flexibilidade no que diz respeito aos processos subsequentes de recurtimento, tingimento e engraxe, podendo ser utilizado processo com várias classes de produtos tanantes.
  7. Processo diferenciado.
  8. Coloração muito clara (quase branco), o que facilita a produção de couros brancos e tons pastéis.
  9. Proporciona tingimento de tonalidades mais vivas e uniformes.